Administração Yuji Yamada: Que Deus nos ajude

A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
                                               Camões, Os Lusíadas
“Nem Deus pode afundar o Titanic”, mito ou não a frase diz bem: a prepotência não é uma boa conselheira, assim como a soberba, a arrogância, a maldade, a teimosia e o ódio.
Contam que antes de o Titanic sair em sua trágica viagem, a empresa fabricante da embarcação pronunciou a frase que abre a nossa legenda. Yuji pode ter incorrido no mesmo erro. No entanto, ao final, já no filme, o comandante, depois de ver o acidente e a agonia da tripulação, diz: Que Deus nos ajude! Porém, não se sabe se Yuji terá, pelo menos, essa humildade, depois de tantos desastres.
Ainda sobre a nossa legenda; quem recebe para desenvolver determinado trabalho e não o faz não deixa de desfalcar a instituição em que trabalha.

Esse fragmento de uma das obras do gênio e imortal Camões é, infelizmente, por demais, oportuno para o momento.

Diante da Praça Engenheiro Dr. Rockert, nas rampas da sede do poder executivo de Janaúba, provavelmente todos os dias Camões teria excelentes oportunidades de dirigir ao prefeito Yuji Yamada, que já provocou muita pena e muito dano, pela “glória de mandar” e “vã cobiça”, o que mais ele quer fazer de ruim? É o que os janaubenses têm o direito de perguntar ao prefeito neste começo da segunda etapa de seu mandato: depois de tudo o que fez e o que deixou de fazer, que castigos ainda vai nos aplicar durante os próximos (quase) dois anos?
É bom não contar com grande coisa.
Yuji escolheu a pior maneira de administrar: sem mando, se é que existe essa maneira. Talvez, por isso, começou a executar as mais espetaculares lambanças e danuras a esse município de características fortes e, até então, promissor.
No momento em que Janaúba mais precisa de harmonia com os governos estadual e federal, para aliviar as agruras criadas ao longo do tempo, e, sobretudo, em seu governo, o prefeito na eleição do consórcio Serrageral, resolve flertar com a oposição, criando clima de rusga com um dos grandes representantes dessas esferas no Norte de Minas.
“Des-orientado” pelos homens que lhe arrodeia, o prefeito cria dúvidas onde não teria de existir. Confuso, não sabe se respeita a composição feita com lideranças e com partido aliado, base dos governos ou se recorre a outros extremos em busca de ajuda.
No entanto, a deficiência não se resume, apenas, a representatividade nos governos, mas sim em gestão mesmo.
Prova disso vem de todos os lados, como: na limpeza da praia Copo do Sujo, a prefeitura conseguiu a inédita façanha de fundir dois motores de máquinas (patrol e trator), em menos de uma semana. Um tomógrafo no valor de 1 milhão de reais, está ocioso, no hospital Regional, a criminalidade voltou a subir assustadoramente. Numa rápida projeção, a continuar como iniciou, este seria o ano mais violento da história da cidade. Mas o pior mesmo é o retrocesso na prestação de serviço em todas as áreas, sobremaneira na de saúde, inclusive à gestante. O município que foi assunto nacional e internacional por reduzir a mortalidade infantil a índices de países superdesenvolvidos, volta a registrar números reprováveis, típicos de países subdesenvolvidos. Se em 2007 foram 3 mortes de crianças de até um ano, em 2013 foram 18 (dados IBGE). E, este ano, pelo menos quatro crianças morreram por falta de acompanhamento adequado, três delas não chegaram a conhecer o mundo, uma morrera à míngua há aproximadamente quatro semanas, fevereiro de 2015 (século XXI), dois bebês (gêmeos) – passou a hora do parto –, e um bebê que faleceu juntamente com sua mãe, no momento do parto, provavelmente não receberam a assistência adequada (assunto tratado por nossa reportagem há menos de um mês). Há aproximadamente 15 dias, a angústia de uma gestante ilustra bem todo o quadro, uma mãe que teria de ser assistida não recebeu os devidos procedimentos, faltava-lhe acompanhamento, e ela não sabia a quem recorrer. Essa é a situação que compromete o sistema e que faz aumentar o índice de mortes de fetos, recém-nascidos, crianças e até de genitora. A saúde do município não funciona, está faltando medicamentos básicos, análises laboratoriais primários estão faltando.
Se a saúde não vai bem, os outros setores também batem cabeça.
Em época de vacas magras o prefeito está deixando voltar recursos que já estavam garantidos, serviços essenciais estão deixando de ser prestados à população. Energia e telefones em repartições públicas do município foram cortados, fornecedores estão em atraso, assim como o pagamento ao servidor. Está sendo preciso cair o repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) do dia 10 para fazer o pagamento da folha.
Neste início de ano fica claro o que o prefeito tenta esconder: a população janaubense está sob ameaça real de um colapso na oferta de serviços públicos municipais.
O resumo da obra é ruim.
Se durante os 26 meses de mandato Yuji conseguiu aprontar tudo isso, que desastres vão cair até o final de 2016 sobre esta terra e esta gente?
A crise de gestão é uma tomografia perfeita da doença mais perigosa, certamente, é a que mantém o município na UTI, isto é – a pura e simples incapacidade do governo municipal, e especialmente de Yuji Yamada, de resolver problemas concretos.  Na questão de gestão – misturada com desacerto político –, fica apenas no fracasso. Há todas as evidências possíveis de incompetência maciça, permanente, progressiva e agressiva. Nos dois primeiros anos o prefeito trocou seu secretariado por várias vezes – e este ano não está sendo diferente, deixou voltar recursos, não apresentou os projetos que Janaúba precisa, não executou leis que estão aprovadas, como por exemplo, lei municipal de eleição de diretores de escolas do município. O que mais seria possível para o prefeito descobrir que existe um problema de gestão na sua administração? Mas, como insiste o prefeito o tempo inteiro, só um ignorante poderia insistir tanto. Toda a sua angústia é com uso da palavra “reconhecimento”. Fica a pergunta: o quê?
A arrogância, a irresponsabilidade e o egoísmo do poder público na gestão municipal – um exagero até para o padrão Yuji de administração –,ficam claros, no entanto, quando se sabe que logo no início de seu mandato, técnicos lhe alertaram sobre um raciocínio lógico de administração pública, então não é exagero. Agora não há nada que se possa fazer com o que o tempo carregou. Não há discurso que faça projetos andar, sem tê-los, ao menos, elaborado.
Enquanto isso... o campo do fracasso continua se alargando, como:
Escola Quilombola Jacaré Grande – (estilo Escola Dalva dos Anjos) no valor de mais de 1 milhão de reais está abandonada.
Falta atenção e acolhimento à população, por exemplo: a comunidade de Mandassaia passa por um momento caótico, e as ações públicas do município lá não chegam.
O prefeito disse que através de contato junto a um grupo de 7 mil empresários traria empresas para Janaúba – até agora nenhuma.


Adaptação textual da coluna J. R. Guzzo – Revista Veja, edição 2410


Pablo de Melo
pablo-labs@hotmail.com

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